segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Morro do Jaburu


A grande polemica causada pelo filme BOPE, mais conhecido como Tropa de Elite, trouxe a todos os brasileiros a indignação de tanta violência e principalmente de tanta corrupção. Todos os dias a gente vê na TV que algum senador, deputado, ministro ou qualquer cargo de confiança que seja, está envolvido em alguma barbaridade contra a nação.
Tantos querendo muito que acabam com nada, além de todo esse envolvimento da polícia com traficantes e sua vontade de querer aquilo que não se pode, o filme trata também da guerra dos morros, e da guerra entre a Tropa de Elite e o comando das favelas. O que ninguém mostra em filme algum, é que nessas favelas também existem pessoas de bem, pessoas que lutam pelos seus direitos, que vivem com dificuldades, mas que mesmo assim não roubam para sobreviver e sustentar suas casas.
Há algumas semanas uma professora lançou um desafio, onde teríamos que visitar uma comunidade, um grupo, ou qualquer tipo de reunião para fazer um trabalho, no começo achamos fácil, adoramos a idéia e resolvemos visitar o presídio de Tucum, um presídio feminino que fica localizado em Cariacica – ES, já estava tudo pronto quando recebemos a notícia de que não poderíamos ir nos sábados, pois era o dia de visitas das detentas, ficamos desapontados, afinal de contas era a nossa oportunidade de conhecermos de perto a historias daquelas mulheres.
A apresentação do trabalho estava chegando e nada de arrumarmos uma comunidade, foi ai que tivemos a grande idéia, ou não, isso só saberemos quando o trabalho for concluído, resolvemos ir ao Morro do Jaburu, conversamos com o porteiro do prédio em que moro, afinal de contas ele é morador do morro e poderia nos dar algumas dicas, a primeira foi um verdadeiro balde de água fria, disse que não era muito bom irmos lá sozinhos, pois estava acontecendo uma guerra entre o morro do Jaburu e o Floresta, mas mesmo assim nos indicou o líder da comunidade.
Ficamos morrendo de medo, mas mesmo assim não desistimos, acho que a vontade de fazer esse trabalho e ter nota, era maior do que levar um tiro, na realidade não pensamos em momento algum nas pessoas da comunidade, apenas pensamos no nosso trabalho, em passar de período e só. Começamos a subir, nunca vi tanta escada na minha vida, em certo momento tive que parar para descansar, não agüentava mais, minhas pernas não me obedeciam, continuamos mais um pouco a procura de Có, o líder comunitário do bairro, derrepente surge uma menininha de mais ou menos uns cinco anos chamada Eduarda, acredito que foi Deus que enviou ela para nos ajudar,parecia coisa de filme de terror, se mostrou empolgada e conhecedora do morro como ninguém, nos levou ate a rua nova e mostrou o resto do caminho.
Um pouco antes de chegarmos à casa de Có escutamos uns fogos, quando olhamos para as ruelas e becos, não havia mais ninguém, ficamos olhando um para a cara do outro sem saber o que fazer, e claro com muito medo! Nunca tinha passado por uma situação dessas, e pra falar a verdade nunca imaginei que passaria, as pessoas acharam que nós fossemos do outro morro, por isso os fogos.
Graças ao bom Deus chegamos a casa de Có, um barraco simples como todos os outros, percebi ali naquele momento que todos ali só estavam com medo como nós. Có nem saiu de dentro de casa no inicio pensando que fossemos do morro visinho, mas no final apesar da timidez, nos levou a lugares inesperados, como o boteco do Manoel testa de Ferro num bequinho, com uma típica entrada de bar e varias cadeiras sinalizando que havíamos chegado num lugar alegre onde a muitas pessoas se reuniam.
Enfim, percebi nessa tarde de domingo que as pessoas são todas iguais, independentes de sua classe, cor, moradia e cultura, é claro que em todos os lugares existem pessoas que não levam a vida a sério, mas mesmo assim aprendi que não precisa ter tudo na vida para ser feliz basta ter amigos para apoiar, boca para reivindicar, braços para ir à luta, cabeça para não desistir e principalmente coração para tomarmos parte dessa batalha que existe em todos os lugares.
A única coisa que eu tenho a dizer agora é que não vou mais acreditar em tudo o que vejo em filmes, documentários e todas as outras coisas que a TV tenta enfiar em nossas cabeças, pois uma frase me marcou “todo mundo acha que aqui só tem violência” quando Có tentou nos falar de como é a divulgação da comunidade em outros bairros, vou observar tudo, digerir o que eu acredito e eliminar o que para mim não faz a diferença do mundo hoje.

Um comentário:

Unknown disse...

OLA,MEU NOME É SONIA OLIVEIRA SOU MORADORA DO JABURU E GOSTEI MUITO DO SEU TRABALHO.GOSTARIA DE CONVIDA-LOS PARA IR AO JABURU NOVAMENTE.
NÃO TEM PERIGO NENHUM DE SUBIR SOZINHOS,SOMOS UMA COMUNIDADE NORMAL.SOU VENDEDORA E TRABALHO EM UM SHOPPING NA MATA DA PRAIA.
MUITOS DISSEM QUE NASCI E ESTOU NO LUGAR ERRADO MAS NÃO CONCORDO,AMO ESSE LUGAR E É AQUI QUE ME CRIEI E SOU MUITO FELIZ.BEIJÃO
SONIAPETENUCI@GMAIL.COM